O hábito faz o leitor
Renata Betti
Veja 2.139
18 de novembro de 2009
A americana Maryanne Wolf é uma das maiores especialistas na área da neurociência que estuda os efeitos da leitura no cérebro, tema sobre o qual já escreveu mais de uma dezena de livros. Hoje, ela se dedica a entender, cientificamente, como as pessoas assimilam conhecimento por meio de novas tecnologias, como o e-book. De Boston, onde comanda um centro de pesquisas na Universidade Tufts, Maryanne falou à repórter Renata Betti.
Suas pesquisas indicam que ler um livro digital não é o mesmo que no papel. Por quê?
A observação sistemática mostra que, com o e-book, as pessoas tendem a acelerar o ritmo da leitura e absorver menos conteúdo. Isso porque a tela remete à idéia de que é preciso vencer etapas a cada instante, antes que a bateria termine ou que se perca a conexão. Ainda faltam, no entanto, evidências baseadas na neurociência, como as que já existem sobre a internet.
Renata Betti
Veja 2.139
18 de novembro de 2009
A americana Maryanne Wolf é uma das maiores especialistas na área da neurociência que estuda os efeitos da leitura no cérebro, tema sobre o qual já escreveu mais de uma dezena de livros. Hoje, ela se dedica a entender, cientificamente, como as pessoas assimilam conhecimento por meio de novas tecnologias, como o e-book. De Boston, onde comanda um centro de pesquisas na Universidade Tufts, Maryanne falou à repórter Renata Betti.
Suas pesquisas indicam que ler um livro digital não é o mesmo que no papel. Por quê?
A observação sistemática mostra que, com o e-book, as pessoas tendem a acelerar o ritmo da leitura e absorver menos conteúdo. Isso porque a tela remete à idéia de que é preciso vencer etapas a cada instante, antes que a bateria termine ou que se perca a conexão. Ainda faltam, no entanto, evidências baseadas na neurociência, como as que já existem sobre a internet.
O que já se sabe sobre a leitura na rede?
Ela é mais superficial, segundo revelam as imagens dos neurônios quando alguém está diante do computador. As fotos mostram, com nitidez, que o circuito formado entre as áreas do cérebro envolvidas na leitura não chega nesse caso, àquela região em que seria processada de maneira mais analítica.
Por que isso acontece?
A internet provê um excesso de estímulos que acabam atrapalhando. Enquanto você lê Shakespeare, não param de aparecer na tela pop-ups e e-mails. É naturalmente difícil manter a concentração e fazer uma leitura de padrão mais elevado, que abra espaço para um alto grau de processamento de idéias. A habilidade para ler deve ser treinada.
Como exatamente?
Simples: lendo todo dia. Não existe no cérebro nada como uma estrutura previamente concebida para a leitura - é preciso construí-la e aprimorá-la. Funciona como no esporte: quanto mais se pratica, melhor é o resultado.
Como a neurociência explica a formação de tal estrutura no cérebro?
A repetição da leitura faz o cérebro desenvolver um circuito que passa a conectar, em questão de milésimos de segundo, três áreas distintas: a da visão, a da linguagem e uma que se encarrega de dar explicação às palavras. Esse mesmo roteiro pode levar até 100 vezes mais tempo, caso a pessoa não tenha o hábito de ler. Seu cérebro fica tomado com a tarefa básica de decodificar o texto - e não consegue ir muito além disso.
Como alcançar um avançado estágio de leitura por meio de novas tecnologias?
É preciso enfatizar à atual geração multitarefa que leitura demanda altíssima atenção e não é conciliável com nenhuma outra atividade. Feita a ponderação, novas tecnologias como o e-book, são mais do que bem vindas. Elas têm ajudado, afinal, a despertar o interesse pelos livros num momento em que isso nunca foi tão difícil.
Um comentário:
ÓTIMA MATÉRIA
Gostaria que a jornalista Renata Betti, por gentileza, entrasse em contato
nilsonfeitosa@bol.com.br
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