quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sou um mind-surfer. É claro. É minha praia. E minha cachaça. Eu bebo.
Há uns dias, ouvi a batida de uma porta. Apenas isso.
E minha mente foi jogada no passado. Fui catapultado para dentro da kombi de meu primo Bob.
Eu tive um pai velho. Bem velho - quando eu tinha cinco anos, meu pai tinha 61. E três tias velhas. Duas solteironas e uma viúva; kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Quando eu escrevo, vou retornando aos velhos dias da Senador Vergueiro, em Botafogo. Nós morávamos - eu, pai, mãe e irmã- na praia de Botafogo, e minhas tias na Senador Vergueiro. E, lá iámos caminhando pela praia de Botafogo até o apartamento de minhas tias, no iníciozinho mesmo da Senador Vergueiro. Era um apartamento gigantesco, enorme, daqueles que criança não pode (não podia) botar as mãos na parede, kkkkkkkkkkk. Enorme. Era uma casa.
Minha mãe as vezes me deixava passar o dia lá - dias, eu acho. Eu era o xodó de minhas tias. Enjoadas. Mas eu era o xodó delas.
Num dos quartos do apartamento era o escritório e biblioteca de meu tio. Morto. Ele não estava mais na casa. Apenas sua aura. Estava por lá. Por toda parte; em especial no escritório e biblioteca. Era uma apartamento com muitas estantes e madeira. Madeiras escuras e móveis grandes e solenes. Era um lugar solene. Aonde eu aprendi a jogar gamão, xadrez chinês e ludo com quatro, cinco anos de idade. Aonde eu brincava e comecei a ler livros daquela biblioteca solene, onde se misturavam livros de meu tio, e alguns livros de meu primo Bob, que já tinha ido embora. Ele era muito mais velho - que eu - e já tinha se casado e seguido seu rumo.
Meu tio já estava morto. Acho que ele morreu logo que eu nasci, ou logo após. Eu não o conheci, ou se conheci, dele não guardo lembrança. Acho que ele chegou a me conhecer, mas não tenho certeza. Ele era funcionário graduado - MUITO graduado - do Banco do Brasil, e o que ele fazia veio a se tornar a Cacex. Ele, e minha tia, viajavam por várias capitais do mundo: Europa, USA, Ásia, estabalecendo o que viria a se tornar a Cacex- Carteira de Comércio Exterior do Branco do Brasil - e o que é hoje toda a estrutura de comércio exterior do Governo Federal.
Lembro-me das fotos de minha tio e meu tio por vários países e capitais do mundo: Praga, Washington, Londres, Tokyo, Paris. Ele morreu dentro de um avião. Já viajava bastante e parece que detectaram nele o início de um problema cardíaco.
Quando a capital se mudou para Brasília, passou a voar mais ainda. E ele se recusou a parar. Se não me engano morreu num voo entre o Rio e Brasília. Um enfarte. No ar.
Comecei a ler os livros da infância do Bob, rsrs. Me lembro vagamente de alguns deles. Lembro que um falava de dois garotos, em uma aventura pelo mundo; pelo mundo todo. E aquilo me fascinava. Aquela profusão de informações e horizontes... Aquilo me tomava.
Aquela enorme e solene biblioteca, de mundos, horizontes e aventuras.
Com a batida de uma porta... Eu estava de novo dentro da kombi do meu primo Bob.
O Bob, já adulto e casado, tinha uma kombi, - lembro-me do cheiro que ela tinha; cheiro de kombi - e passava na casa de minha tia para nos apanhar para ir ao Clube Guanabara, na praia de Botafogo, rsrs. E numa dessas vezes, eu prendi o dedo na porta da kombi.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Em outra, eu não queria ir. E o Bob fingiu que foi embora, e nos deixou ali na calçada, rsrs. Pruns minutos depois voltar. Eles queriam me convencer a ir. Nesse dia acho que eu fui, rsrs.
São lembranças cheias de "eu acho", "se" e "parece", cheias de neblina.
Talvez assim sejam as lembanças de todas as pessoas. Talvez as de algumas. Mas são assim, as minhas. Talvez fiquem mais cheias de neblina ainda... Até desaparecerem. Junto comigo.
Até desaparecermos.
Ambos.
Primeiro, minhas lembranças.
Depois, eu.

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