
Mesmo sendo uma sessão-pipoca, o filme levanta uma série de questões científicas interessantes, e é claro que o interesse de Shyamalan por ciência vai muito além de uma pesquisa superficial de idéias para roteiros. O protagonista da vez é um professor de biologia do ensino médio (interpretado por Mark Wahlberg), que discursa sobre os limites da capacidade da ciência para explicar o mundo e coloca seus conhecimentos em prática para tentar sobreviver quando o “fim dos tempos” começa a dar seus sinais.
(Atenção: a partir deste ponto a nota contém spoilers. Se não quiser saber mais sobre as surpresas do filme, pare por aqui.)
O professor deduz que árvores e arbustos, com sua vida perturbada pela presença humana, emitem uma substância tóxica que levam grupos cada vez menores de pessoas – primeiramente cidades, e então povoados e vilas, depois grupos de refugiados e, por fim, cada pessoa – a cometer suicídio. Enquanto isso, seu amigo Julian (John Leguizamo), um professor de matemática, encara a morte iminente enquanto ensina a seu último aluno a parábola dos grãos de arroz em um tabuleiro de xadrez.
O resto do mundo ainda não sabe se o ataque é um incidente terrorista, um experimento com armas biológicas que não deu certo, um acidente nuclear ou qualquer outro dos suspeitos de sempre, e o filme termina com a humanidade ainda não entendendo a mensagem ambientalista – e seu perigo.
George Musser, da Scientific American, falou com Shyamalan por telefone. Acompanhe a entrevista.
SHYAMALAN: Você viu ontem no New York Times um artigo sobre plantas falando com outras plantas? Estava na capa do Science Times! Mal pude acreditar!
MUSSER: A vida imita a arte... Também publicamos um artigo de Robert Sapolskyhá alguns anos que fala como os parasitas afetam o comportamento dos animais e, por fim, os leva a cometer suicídio. Isso também é a vida imitando a arte. Há um trecho do artigo que relaciona o caso desses animais ao filme. “Isso é semelhante a uma pessoa ser infectada por um parasita cerebral que... gera um desejo irresistível de ir ao zoológico, pular as grades e beijar um urso polar.” Esses são os parasitas na natureza que subvertem e colocam o instinto de sobrevivência contra o animal. Nesse caso, eles afetam roedores e acaba com o medo que eles têm dos gatos. É por isso que grávidas não podem nem chegar perto das caixinhas de areia dos felinos.
SHYAMALAN: Uau, isso é fascinante!
MUSSER: Uma coisa que sempre quis perguntar é o que você acha sobre os limites da ciência. Está claro que a você pensa muito nisso; aparece no começo do filme e também no finalzinho.
SHYAMALAN: O que eu acho é que só temos nossas próprias categorias e rótulos para julgar as coisas. Aquilo que não vemos, em qual das nossas oito categorias (ou mais) poderia se enquadrar? Tudo aquilo que não se encaixa muito bem é classificado meio de qualquer jeito. Como inventamos essas categorias, é tudo muito limitado. Psicologicamente, se você está procurando alguma coisa em seus dados, você encontrará. Se estiver fazendo uma experiência em busca de padrões e diz “Achei! Eu consigo vê-lo!”, é a mesma coisa, é como se você estivesse dizendo que “há sempre uma explicação para tudo bem ao nosso alcance” – e sempre damos um jeito de enquadrar o assunto em questão. Mas há tanto que ainda não foi explicado! Eu não entendi muito bem a explicação científica do “efeito placebo”. O que está na raiz disso? Ok, o placebo existe, é fato, mas o que ele é? Não temos a menor idéia. E eu adoro isso. Adoro até mesmo essa coisa da vantagem natural quando um time está jogando em casa. Por que isso acontece? Isso está ligado a um sistema de crenças. Tanto o placebo quanto esse efeito do jogo em casa fazem parte de um sistema de crenças que pode transformar o pensamento em uma função biológica. E isso é algo que a ciência diz não ser possível. No entanto, é documentável.
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