domingo, 9 de dezembro de 2007

Nessa época tive um sonho inesquecível que me apavorou e encorajou ao mesmo tempo. De noite, num lugar desconhecido, eu avançava com dificuldade contra uma forte tempestade. Havia uma bruma espessa. Ia segurando e protegendo com as duas mãos uma pequena luz que ameaçava extinguir-se a qualquer momento. Sentia que era preciso mantê-la a qualquer custo, pois tudo dependia disso. Subitamente tive a sensação de que estava sendo seguido; olhei para trás e percebi uma forma negra e gigantesca acompanhando meus passos. No mesmo instante decidi, apesar do meu temor e sem preocupar-me com os perigos, salvar a pequena luz, através da noite e da tempestade. Ao acordar, compreendi imediatamente que sonhara com o fantasma de Brocken, com minha própria sombra projetada na bruma pela pequena luz, que eu buscava proteger. Sabia que essa pequena chama era minha consciência, a única luz que possuía. O conhecimento de mim mesmo era o único e maior tesouro que possuía. apesar de infinitamente pequeno e frágil comparado aos poderes da sombra, era uma luz, minha única luz.
Esse sonho trouxe-me um grande esclarecimento: sabia agora que o meu n° 1 era quem levava a luz, enquanto que o n° 2 o seguia como uma sombra. Minha tarefa consistia em conservar a chama sem olhar para trás, em direção à vita peracta, um domínio luminoso proibido, de uma espécie diferente. Era necessário continuar contra a tempestade que procurava fazer-me recuar e entrar na obscuridade imensa do mundo, onde não se vê, nem se percebe, mais do que a superfície dos segredos insondáveis.
Memórias, Sonhos e Reflexões

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